quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Adeus, ano velho...


E mais um ano que se vai...um ano triste para o cinema, uma vez que perdemos nomes como Paul Newman, Charlton Heston, Cyd Charisse, Michael Crichton, Paul Scofield, Stan Winston, Heath Ledger, Jules Dassin, Sydney Pollack, nossa querida Dulce Damasceno de Brito e até a aparentemente imorrível Dercy Gonçalves.

Em meio a esse turbilhão de mortes de gente do mundo do cinema devo dizer que 2008 não foi só tristeza, pelo menos não para mim(egoísta mode:off). Fiz várias compras de excelentes filmes para o meu acervo particular, me viciei de vez em séries de qualidade excepcional e apesar de não ter ido ao cinema tanto quanto gostaria, também assisti a grandes filmes.

Com a imagem dos sorridentes Gerge Clooney e Frances McDormand em meio a uma sessão de cinema é que me despeço deste ano, pessoal...desjejando que em 2009 todos nós possamos exibir a mesma expressão de alegria de Clooney e McDormand na foto acima ao nos depararmos com novos e excelentes filmes.

Feliz ano novo para todos!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A Malvada

Bette Davis (1908-1989) , talvez a maior atriz do cinema norte-americano, tinha um carinho especial por A Malvada , carinho este justificado, já que o filme em questão representou o retorno da atriz ao sucesso, uma vez que seus últimos trabalhos haviam sido fracassos de crítica e público. E curiosamente Davis não fora a primeira escolha para interpretar a imperiosa Margo Channing: de Susan Hayward a Ingrid Bergman, passando por Claudette Colbert (esta quase a escolhida, mas não pôde aceitar o papel por motivos de saúde), vários foram os nomes cogitados. Bette, ironicamente, foi escolha de última hora. O resultado de tudo isso é que em A Malvada Davis apresentou um dos desempenhos mais celebrados de toda a sua vasta carreira.

No mesmo ano em que Gloria Swanson deu vida à inesquecível Norma Desmond na obra-prima Crepúsculo dos Deuses, Bette Davis interpretou uma personagem semelhante: uma atriz em processo de envelhecimento. A diferença é que a derrocada de Margo Channing não se dá por meio da tecnologia dos filmes falados( ela é uma diva do teatro), mas sim com o surgimento da dissimulada Eve Harrington( Anne Baxter, aqui no seu melhor trabalho).


O título original é a chave para a compreensão do filme: All About Eve. Numa premiação da classe teatral, a jovem Eve Harrington é laureada com o prêmio Sarah Siddons. Louvada e reverenciada como um novo e vigoroso talento, Eve sorri para todos. No entanto, o crítico teatral Addison DeWitt(George Sanders, numa atuação maravilhosa que lhe rendeu o Oscar de ator coadjuvante) tem uma visão diferente acerca da jovem premiada. Para confirmar esta visão ele apresenta ao espectador outros rostos na festa que não parecem compartilhar da alegria de Eve: o dramaturgo Lloyd Richards( Hugh Marlowe), a esposa dele, Karen( Celeste Holm), o diretor Bill Sampson( Gary Merrill) e, claro a veterana estrela Margo Channing. Por que eles não parecem felizes com a vitória de Eve? A resposta está nos flashbacks narrados por DeWitt, Karen e Margo, que se encarregarão de contar "tudo sobre Eve", ou seja, todos os bastidores da selvagem escalada ao sucesso da ambiciosa novata.


Margo é, nas palavras de DeWitt, "uma grande atriz, uma verdadeira estrela", mas começa a sentir os duros efeitos do envelhecimento, que fatalmente irá lhe diminuir a oferta de bons papéis. Por meio de sua melhor amiga Karen, ela acolhe consigo a sonsa Eve, que logo cativa a todos com sua pose de pobre coitada e fã devotada. Lisonjeada com a adulação de Eve, Margo faz dela sua secretária particular, e muito em breve a veterana estrela será suplantada pela novata de poucos escrúpulos, que utilizará dos meios mais torpes possíveis para a conquista do estrelato.



Roteirizado pelo diretor Mankiewicz, a trama de A Malvada tem toda a sua força concentrada no embate entre as duas protagonistas. Observemos como o roteiro é habilidoso em escapar da armadilha de mostrar Margo como uma mocinha ingênua que é destruída pela pérfida Eve. De fato, Margo é a principal vítima das maquinações de sua protegida, porém é uma figura de personalidade forte, autoritária e de certa forma antipática( atributos que fizeram a fama de Bette Davis, numa interpretação com toques curiosamente autobiográficos). Esta antipatia - típica das estrelas temperamentais - poderia ser vista com repúdio pela platéia,mas Davis, numa atuação extraordinária, sutilmente acrescenta à personagem toques de insegurança e carência, no que diz respeito à sua decadência física e interpretativa, tornando Margo mais humana e palpável. Já Anne Baxter silenciosamente compõe Eve como uma força destruidora. Aproximando-se da veterana atriz com intensa admiração e atitudes subservientes, a moça vai rapidamente tomando o espaço de Margo através de uma artimanha que inevitavelmente seduziria o ego de qualquer celebridade: a idolatria. Afinal de contas, não é da bajulação que o ego das celebridades é alimentado?

Vencedor de seis Oscar, dentre eles o de melhor filme e melhor diretor, A Malvada permanece ainda hoje como um filme atualíssimo, já que em qualquer âmbito social sempre parece existir uma Eve Harrington ávida pelo reconhecimento alheio e disposta a tudo para conquistá-lo, indefectivelmente aparecendo como lobo em pele de cordeiro. E que também no fundo, lá no fundo, todos podemos ser tão cínicos e manipuladores como ela.

Obs.: Reparem na ponta de Marilyn Monroe como uma aspirante a atriz. Então uma iniciante no cinema, ela já conseguia chamar a atenção com sua beleza hipnotizante e num papel de loira avoada.

-All About Eve, EUA, 1950

-Direção e Roteiro: Joseph L. Mankiewicz

-Com: Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm, Hugh Marlowe, Gary Merrill, Barbara Bates, Gregory Ratoff, Marilyn Monroe e Thelma Ritter.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Globo de Ouro 2009

Àqueles que acompanham o modesto trabalho do meu blog, desculpem ae pelo atraso nas postagens, já que fazia quase um mês que não atualizava o coitado. Bom, estou de volta, agora trazendo com um ligeiro atraso os indicados ao Golden Globe 2009. São estes:

Cinema

Best Motion Picture - Drama
The Curious Case of Benjamin Button
Frost/Nixon
Reader
Revolutionary Road
Slumdog Millionaire

Best Motion Picture - Musical or Comedy
Burn After Reading
In Bruges
Happy-Go-Lucky
Mamma Mia
Vicky Cristina Barcelona

Best Original Song
“Down to Earth”, WALL-E
“Gran Torino”, Gran Torino
“I Thought I Lost You”, Bolt
“Once in a Lifetime”, Cadillac Records
“The Wrestler”, The Wrestler

Best Original Score
Defiance
The Curious Case of Benjamin Button
Slumdog Millionaire
Frost/Nixon
Changeling

Best Animated Film
Bolt
Kung Fu Panda
Wall-E

Best Foreign Language Film
The Baader Meinhof Complex
Gomorrah
I’ve Loved You So Long
Waltz with Bashir

Best Director
Danny Boyle, Slumdog Millionaire
Steven Daldry, The Reader
David Fincher, The Curious Case of Benjamin Button
Ron Howard, Frost/Nixon
Sam Mendes, Revolutionary Road

Best Screenplay
Simon Beaufoy, Slumdog Millionaire
David Hare, The Reader
Peter Morgan, Frost/Nixon
Eric Roth, Benjamin Button
John Patrick Shanely, Doubt

Best Actor - Drama
Leonardo DiCaprio, Revolutionary Road
Frank Langella, Frost/Nixon
Sean Penn, Milk
Brad Pitt, Benjamin Button
Mickey Rourke, The Wrestler

Best Actress - Drama
Anne Hathaway, Rachel Getting Married
Meryl Streep-Doubt
Angelina Jolie-Changeling
Kristin Scott-Thomas-I´ve Loved You So Long

Kate Winslet-Revolutionary Road


Best Actor - Musical or Comedy
Javier Bardem, Vicky Cristina Barcelona
Colin Farrell, In Bruges
James Franco, Pineapple Express
Brendan Gleeson, In Bruges
Dustin Hoffman, Last Chance Harvey

Best Actress - Musical or Comedy
Rebecca Hall, Vicky Cristina Barcelona
Sally Hawkins, Happy-Go-Lucky
Frances McDormand, , Burn After Reading
Meryl Streep, Mamma Mia!
Emma Thompson, Last Chance Harvey

Best Supporting Actress
Amy Adams, Doubt
Penelope Cruz, Vicky Cristina Barcelona
Viola Davis, Doubt
Marisa Tomei, The Wrestler
Kate Winslet, The Reader

Best Supporting Actor
Tom Cruise, Tropic Thunder
Robert Downey, Jr., Tropic Thunder
Ralph Fiennes, The Duchess
Philip Seymour Hoffman, Doubt
Heath Ledger, The Dark Knight


*

TV

Best Drama Series:
Dexter
House
In Treatment
Mad Men
True Blood

Best Actor - Drama Series:
Gabriel Byrne, In Treatment
Michael C. Hall, Dexter
Jon Hamm, Mad Men
Hugh Laurie, House
Jonathan Rhys Meyers, The Tudors

Best Actress - Drama Series:
Sally Field, Brothers & Sisters
Mariska Hargitay, Law & Order: Special Victims Unit
January Jones, Mad Men
Anna Paquin, True Blood
Kyra Sedgwick, The Closer

Best Comedy Series:
Californication
Entourage
The Office
30 Rock
Weeds

Best Actor - Comedy Series:
Alec Baldwin, 30 Rock
Steve Carell, The Office
Kevin Connolly, Entourage
David Duchovny, Californication
Tony Shalhoub, Monk

Best Actress - Comedy Series:
Christina Applegate, Samantha Who?
America Ferrera, Ugly Betty
Tina Fey, 30 Rock
Debra Messing, The Starter Wife
Mary Louise Parker, Weeds

Best TV Movie/Miniseries:

Bernard and Doris
Cranford
John Adams
A Raisin in the Sun
Recount

Best Actor - TV Movie/Miniseries:
Ralph Fiennes, Bernard and Doris
Paul Giamatti, John Adams
Kevin Spacey, Recount
Kiefer Sutherland, 24: Redemption
Tom Wilkinson, Recount

Best Actress - TV Movie/Miniseries:
Judi Dench, Cranford
Catherine Keener, An American Crime
Laura Linney, John Adams
Shirley MacLaine, Coco Chanel
Susan Sarandon, Bernard and Doris

Best Supporting Actor - Series, TV Movie, Miniseries:
Neil Patrick Harris, How I Met Your Mother
Denis Leary, Recount
Jeremy Piven, Entourage
Blair Underwood, In Treatment
Tom Wilkinson, John Adams

Best Supporting Actress - Series, TV Movie, Miniseries:
Eileen Atkins, Cranford
Laura Dern, Recount
Melissa George, In Treatment
Rachel Griffiths, Brothers & Sisters
Dianne Wiest, In Treatment


Rápidos comentários e achismos:

Batman TDK apresenta como maior trunfo nas premiações a soberba atuação do falecido Heath Ledger....que novidade...de qualquer forma teremos o segundo Oscar póstumo da história?Esperar pra ver...

Kate Winslet em dupla indicação!Coisa boa!!!Ela merece e muito! Porém,a indefinição de lançar a sua candidatura como atriz principal ou coadjuvante por The Reader em muito a prejudicou, especialmente porque como coadjuvante ela enfrentará o furacão Penélope Cruz, que está arrebanhando prêmios e mais prêmios por Vicky Cristina Barcelona. Ainda comentando dos intérpretes, fica aqui a minha torcida incondicional por Mickey Rourke e seu The Wrestler. Uma pena que Darren Aronofsky não foi indicado, já que ele é um diretor excepcional.

E será que a indicação ao Globo de Ouro terá força para empurrar a primeira indicação de David Fincher ao Oscar?De qualquer forma,estou ansioso por Benjamin Button e também pelo novo filme do velho Clint Eastwood, Gran Torino,que foi solenemente ignorado...

Bom,vamos falar de TV.

Adoro séries, mas confesso que elas meio que me roubam um tempo precioso para ver filmes. Sei que tem muita série que humilha certos filminhos de Hollywood, mas também não tenho lá muita paciência para acompanhar mil e duas tramas semanais,não...por isso, da lista de indicados minha torcida fica só mesmo para Michael C.Hall e seu trabalho excepcional como Dexter,que bem que poderia faturar o prêmio de série dramática. E Lost, ignorada de novo,enquanto House e Ugly Betty eternamente indicadas...e justo numa temporada extremamente bem amarrada, com praticamente todos os episódios excelentes...vai entender...¬¬

Pra encerrar, só uma pergunta:alguma emissora de TV aberta vai exibir a festa? Teve um ano em que o SBT exibiu...será que o Tio Sílvio faria essa cortesia de novo?

Na espera.


Queime Depois de Ler

Depois da consagração definitiva com os Oscars conquistados pelo denso Onde Os Fracos Não Têm Vez, muitos esperavam que o próximo trabalho dos irmãos Ethan e Joel Coen fosse outra obra séria e amarga, por assim dizer. Em vez disso a dupla resolveu apenas contar uma ótima história com zero de pretensão, mas cheia de vitalidade e humor negro, marca registrada deles.
O enredo de Queime Depois de Ler é um primor do nonsense: Osbourne Cox( vivido por John Malkovich) , um ex- agente da CIA é despedido devido às suas constantes bebedeiras. Deprimido e revoltado, ele resolve escrever um livro de memórias,daqueles bem bombásticos onde se conta tudo. O problema é que o disco contendo as informações do tal livro é deixado acidentalmente no vestiário de uma academia de ginástica, onde trabalham os desmiolados Chad (Brad Pitt) e Linda ( Frances McDormand) , que tentarão tirar proveito da situação, especialmente Linda, que está em obcecada em fazer uma série de cirurgias plásticas, que custam em torno de 50.000 dólares. Como o plano de saúde dela não quer cobrir a empreitada, a dupla de imbecis irá chantagear Cox, que por sua vez está às voltas com sua antipática esposa(Tilda Swinton), louca pra se divorciar dele. Fechando esta teia de intrigas, temos o patético Harry Pfarrer(George Clooney),um vaidoso agente do Tesouro Nacional,que entrará meio que sem querer na história por meios bizarros e ultraviolentos



Com uma narrativa que não hesita em se assumir como absurda, os Coen aqui criam uma sátira de rachar de rir. Os personagens são completos idiotas e hilariantes nas suas atitudes burras e inconsequentes:observem por exemplo, Linda e Chad, que de posse do valioso CD contendo as memórias de Cox, tentarão vendê-lo... aos russos!Aparentemente alguém se esqueceu de avisá-los de que a Guerra Fria ficou para trás... Osbourne, por sua vez,ressoa ridículo no seu histrionismo, enquanto Harry, só desperta risos por se julgar superior e pretensamente fleumático. De toda essa gama de personagens malucos, os únicos "normais" são a esposa de Cox e o chefe de Linda e Chad,interpretado por Richard Jenkins. De quebra, as ações dos malucos são observadas de perto pela própria CIA,por meio de um subordinado da agência(David Rasche) que relata para um nervoso superior hierárquico( um J.K. Simmons hilariante) todo o desenrolar dos fatos,numa espécie de coro grego. O resultado dessa salada que satiriza a um só tempo os filmes de espionagem( o plano aéreo que emula uma visão de satélite), a vaidade feminina,os relacionamentos por interesse, a ânsia desmedida de se dar bem a qualquer custo e a burocracia dos órgãos federais é engraçadíssimo,numa improvável mistura que os Coen tiram de letra.





No meio de um elenco homegeneamente talentoso, vale ressaltar os desempenhos de Frances McDormand e Brad Pitt. Ela,uma das melhores e mais versáteis atrizes do cinema americano está sensacional na pele de uma personagem ao mesmo tempo ridícula e cativante na sua burrice e malandragem,ao passo que Pitt revela-se a cada dia melhor ator, como o abestalhado parceiro de Linda. Sempre com gestos bruscos e uma cara de palerma, o astro brilha na composição de um bocó que não tem a menor idéia do tamanho da enrascada em que pode estar se metendo, sempre acreditando erroneamente que está um passo a frente na chantagem empreendida. Aliás,Pitt participa de uma sequência absolutamente inesperada por sua altíssima dose de violência e humor negro.

Para quem achava que depois do Oscar os Coen tomariam ares mais sérios, Queime Depois de Ler provavelmente será uma decepção. Eles continuam gaiatos como nunca, e isso é ótimo. Quem disse que mudar necessariamente faz bem?

-Burn After Reading,EUA,2008

-Direção: Ethan e Joel Coen

-Roteiro: Ethan e Joel Coen

-Com: George Clooney, Frances McDormand, Brad Pitt, Richard Jenkins,Tilda Swinton,J.K. Simmons,David Rasche e John Malkovich.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

007-Quantum of Solace





Em 2006 a franquia do agente secreto 007 sofreu uma reviravolta:Cassino Royale,o vigésimo primeiro filme da série apresentava um Bond brutal,sem a menor sofisticação dos antecessores Sean Connery,Roger Moore ou Pierce Brosnan. A nova aventura ainda tirava de cena as bugigangas tecnológicas e o ar fantasioso que pareciam estar tomando conta dos longas do espião britânico,além de ser protagonizada por Daniel Craig,um bom ator,mas de traços duros e físico de pugilista,numa combinação que nem de longe passava perto da elegância,suavidade e charme exibidos pelos atores que o precederam no papel.


A despeito de tais mudanças terem provocado a ira dos fãs mais ardorosos do personagem, Cassino Royale foi um sucesso estrondoso justamente por exibir um Bond bastante diferente do que o público estava habituado a ver. Claro que aproveitar elementos de outra série de espionagem de sucesso - a trilogia Bourne - só contribuiu para o êxito do 007 do novo milênio.


O que nos leva a Quantum of Solace, o vigésimo segundo longa-metragem do espião do MI-6. Passada imediatamente após os eventos ocorridos em Cassino Royale(fato incomum na série,cujos filmes podem ser vistos de forma independente),a trama se inicia com com Bond e M(Judi Dench) interrogando Mr.White(Jesper Christensen),personagem do capítulo anterior a fim de buscar mais informações sobre a organização criminosa responsável pela morte de Vesper Lynd(Eva Green,também do filme anterior). O que se descobre é que a organização,denominada Quantum é maior do que se imagina e que a mesma esconde agentes duplos infiltrados tanto na CIA como no próprio MI-6 e também pretende apoiar um golpe de estado na Bolívia,levando um ex-ditador de volta ao poder,em troca de receber uma grande parte do deserto boliviano para ser explorado com fins escusos.


Contando com uma trama fraca e confusa,o filme peca ainda pela condução desenxabida do cineasta alemão Marc Forster,um diretor apenas mediano de obras tão distintas como Em Busca da Terra do Nunca,A Passagem,Mais Estranho que A Ficção e O Caçador de Pipas. Aqui,ele comanda o filme copiando descaradamente cenas de O Ultimato Bourne,embora nesse caso em particular, também seja importante debitar parte da culpa na conta do diretor da segunda unidade,Dan Bradley, que não por coincidência também ocupou a mesma função em Bourne.



De positivo ainda temos Daniel Craig,que mais uma vez oferece um bom desempenho,apesar de seus esforços serem volta e meia boicotados pela insistência do roteiro em repisar nos cansativos clichês de superação emocional,com direito a frases de efeito do tipo "você precisa perdoar a si mesmo".E enquanto Judi Dench mais uma vez confere a M o apropriado ar de autoridade, o francês Mathieu Almaric(do belo O Escafandro e A Borboleta)decepciona como um dos piores vilões da história de Bond, ao passo que Olga Kurylenko,apesar de linda - atributo essencial às mulheres dos filmes de 007 - ,se revela uma Bondgirl insossa por conta da jornada-clichê de sua personagem(ela busca vingança pela família assassinada...bem original,né?)

Tendo como clímax uma batidíssima sequência de explosões, Quantum of Solace acaba oferecendo mais erros do que acertos, resultando numa experiência frustrante tanto para os fãs mais fiéis do Bond clássico como para aqueles que abraçaram o novo conceito do personagem. Uma pena.

-Quantum of Solace,EUA/Reino Unido,2008

-Direção: Marc Forster

-Roteiro: Neal Purvis,Robert Wade e Paul Haggis

-Com:Daniel Craig, Olga Kurylenko, Mathieu Almaric, Giancarlo Giannini, Jeffrey Wright, Gemma Arterton, Jesper Christensen e Judi Dench.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Sexta-Feira 13


Norman Bates, do clássico Psicose , serviu de inspiração para vários filmes protagonizados por assassinos psicopatas obcecados pela figura materna, mas nenhum deles deixou uma marca tão forte no cinema de terror e na cultura pop como Jason Voorhees , da franquia Sexta - Feira 13. Jason provavelmente também pode exibir a alcunha de assassino mais difícil de morrer do cinema: o sujeito já sobreviveu a golpes de facão, machadadas, já foi eletrocutado, baleado e atropelado...para sempre ressurgir em novos filmes de qualidade na maioria das vezes duvidosa. Tudo com a nobre missão de trucidar adolescentes chatos, metidos a engraçadinhos e promíscuos.


O curioso é que neste primeiro exemplar da série( que só tive oportunidade de ver recentemente) o responsável pelos assassinatos nem é Jason, mas sim a sua querida mamãe(longe de ser um spoiler tal afirmação, afinal de contas, quem não conhece a série? ), uma senhora louca de pedra que jamais perdoou os monitores de uma colônia de férias situada no acampamento Crystal Lake de terem deixado o seu filhinho morrer afogado, no ano de 1957. Um ano após a morte do garoto, o casal de monitores - que ao invés de vigiar o pobre Jason estava transando - é assassinado( adivinhem por quem...) e o acampamento é fechado. Duas décadas mais tarde, Crystal Lake é reaberto e um grupo de jovens cabeças - ocas vão trabalhar como monitores na reinauguração. Ou seja, mais gente para ser retalhada pela adorável Pamela Voorhees.




O que se segue é o festival de mortes do gênero, sempre seguindo a lógica dos filmes de terror: a mocinha pura e casta (que sequer troca um beijo com seu flerte) sobrevive, enquanto seus amigos promíscuos são mortos um a um; há uma espécie de profeta louco que avisa aos jovens dos perigos que rondam Crystal Lake; os personagens são de uma burrice extrema, sempre dispostos a transar em locais ermos, tropeçar no meio de uma corrida pra salvar a própria pele e a entrar em locais escuros e pouco recomendáveis.


Mas acompanhar a tudo isso não deixa de ser extremamente divertido, até porque este primeiro filme da série ainda exibia certa coerência narrativa, ao contrário do que viria a ocorrer nas continuações. Temos a mamãe Voorhees matando sem piedade os adolescentes burros? Sim, mas o número de mortes aqui é relativamente baixo: "apenas"10 assassinatos(a efeito de comparação, Jason X, provavelmente o pior da franquia exibe tanta gente esquartejada que perdi a conta de quantos provaram do facão de Jason).De quebra,a velhota psicótica ainda sai no braço com a mocinha da história, a loirinha Alice, numa sequência ao melhor estilo "briga de novela", com direito a tabefes e puxões de cabelo. Trash total.


O resultado final, apesar de tosco e risível para os padrões de hoje, está acima da média, principalmente se formos comparar com o que viria a seguir:Jason, o filhinho da mamãe,meio que se tornaria um aloprado indestrutível, em continuações que variavam entre o guilty pleasure inocente ao lixo total. Bom,mas até o lixo pode ser rentável em Hollywood, prova disso é que Sexta -Feira 13 vai ganhar um remake, com estréia marcada para 2009. E pensar que o filme original nem foi concebido como uma sequência...



O dvd traz um making of bem bacana, com entrevistas com o diretor Sean Cunningham, o roteirista Victor Miller e as atrizes Betsy Palmer e Adrienne King, ambas esbanjando simpatia e contando histórias bastante curiosas sobre o filme.A veterana Betsy conta no melhor estilo despachado que aceitou fazer o papel da Sra. Voorhees porque queria comprar um carro novo, ao passo que Adrienne revela um bizarro caso de como " a vida imita a arte":durante dois anos ela chegou a ser perseguida por um fã obsessivo.



Friday The 13 th, EUA , 1980


Direção: Sean S. Cunningham

Roteiro:Victor Miller

Com: Adrienne King, Betsy Palmer, Harry Crosby, Kevin Bacon, Laurie Bartram, Jeannine Taylor, Mark Nelson e Robbi Morgan.


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

MEME: Feios, Sujos e Malvados

Listas sempre são difíceis de fazer.Sempre rola uma injustiça aqui e ali, a polêmica corre solta e muitas vezes fica aquela impressão de que faltou alguma coisa. Mas enfim, é inegável que na maioria das vezes elas divertem ao revelar as preferências de muita gente.



Bom, atendendo ao desafio proposto pelo Ibertson, do Cinema para Todos , eis a minha relação dos mais pérfidos e repulsivos vilões do cinema. Não me arrisquei a listá-los por ordem de preferência, já que cada um a seu modo tem o seu peso e valor. Só lembrando que a relação abaixo contém spoilers , ok? Vamos a eles:



1) Anton Chigurh (Javier Bardem, Onde Os Fracos Não Têm Vez, de Ethan e Joel Coen)







Com um corte de cabelo que parece ter sido copiado de alguma dona de casa dos anos 50 e um sobrenome pra lá de esquisito, ele abre a minha lista. De origem indefinida, portando um cilindro de ar comprimido e dotado de uma habilidade monstruosa para matar quem atravessar o seu caminho, esta cria dos irmãos Coen é a pura encarnação do mal cada vez mais ascendente na sociedade de hoje. Nas mãos dele, um banal jogo de cara-e-coroa ganha contornos assustadores...




2) Mick Taylor (John Jarratt, Wolf Creek - Viagem ao Inferno, de Greg McLean)





De caipira boa-praça e inofensivo esse sujeito aí só tem a aparência. A presença dele nesta pérola do terror australiano faz qualquer um pensar duas vezes antes de embarcar numa viagem para conhecer uma cratera no coração da Austrália.



3) Leatherface (Gunnar Hansen, O Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper)




Nem sempre um vilão precisa ser sarcástico ou proferir ameaças escabrosas. No caso de Leatherface, uma motosserra se encarrega de fazer todo o barulho possível na arte de mutilar jovens incautos para depois fazer dos pedaços das pobres vítimas uma bizarra decoração para o lar ou ainda enfiá-los num freezer para as refeições de sua peculiar família. E que olhos grandes tem o prato principal do jantar!


4) Eve Harrington (Anne Baxter, A Malvada , de Joseph L. Mankiewicz)







Pra quebrar um pouco a hegemonia dos marmanjos malvadões nesta lista , eis uma vilã de respeito: Eve Harrington, a rainha das arrivistas. A perfeita definição da víbora de modos suaves que, fazendo-se passar por fã número 1 de uma famosa atriz de teatro (papel da grande Bette Davis), aos poucos vai tomando o lugar da estrela bajulada através dos golpes mais baixos possíveis. Virou inspiração para um sem-número de vilãs genéricas das novelas de TV brasileiras, mas não se engane: Eve Harrington só tem uma.



5) Harry (Sergi López, Harry Chegou para Ajudar, de Dominik Moll)








Michel(Laurent Lucas) é um completo banana: é humilhado pela esposa, tem três filhas pentelhas, não consegue dizer não aos pais intrometidos e ainda por cima está na maior crise financeira. A solução para essa maré de azar tem nome: Harry, um bon vivant que fora amigo de Michel na escola e que prestativamente cuidará de resolver cada uma das dificuldades do molóide pai de família da maneira mais eficaz possível. Mesmo que a resolução envolva assassinatos brutais, mas isso é apenas um detalhe a ser relevado quando se encontra um amigo tão solícito, certo?





6) Capitão Vidal (Sergi López, O Labirinto do Fauno, de Guillermo Del Toro)




Sergi López de novo! O cara parece ter sido talhado para a vilania no cinema. A maldade do seu capitão Vidal só se equipara ao seu pragmatismo e zelo de militar. O sujeito é um pesadelo vivo, que não tem o menor pudor de dilacerar um rosto de um pobre camponês e de matar uma criança a sangue frio, dentre outras finezas.





7) Sra. Iselin (Angela Lansbury, Sob O Domínio do Mal , de John Frankenheimer)







Talvez a mãe mais megera da história do cinema. Altamente perigosa e manipuladora, ela não hesita em usar o filho único (vivido por Laurence Harvey) como peça-chave em uma terrível conspiração política. Com uma mãe como esta passamos a repensar um pouco a respeito do clássico conceito de amor materno...




8) Catarina de Médicis (Virna Lisi, A Rainha Margot , de Patrice Chéreau)







Mais uma da série das mães megeras. Governando a França do século XVI nos bastidores, já que seu filho, o monarca Carlos IX, é um rei fraco e manipulável, ela é a responsável pelas intrigas palacianas mais envolventes deste épico francês, inclusive instigando o assassinato de milhares de protestantes na famigerada Noite de São Bartolomeu. A postura austera e o uso constante de roupas pretas só reforçam a aura de bruxa da matriarca dos Valois.




9) Coringa (Heath Ledger, Batman- O Cavaleiro das Trevas , de Christopher Nolan)







Heath Ledger construiu um vilão tão aterrador no seu niilismo que seu soberbo Coringa de Batman-O Cavaleiro das Trevas não poderia ser ignorado nesta seleção. É a pura personificação do caos, um psicopata que subjuga a todos - personagens do filme e espectadores - através de bizarrices que só as mentes mais perversas são capazes de conceber. De quebra, entre uma barbaridade e outra ele ainda encontra tempo para provocar uma complexa discussão acerca da tênue linha que separa a integridade de caráter da crueldade humana, que parece estar só à espera de um empurrãozinho para se manifestar. Genial.





10) Baby Jane Hudson ( Bette Davis, O que Terá Acontecido a Baby Jane? , de Robert Aldrich)





Nenhuma lista dos melhores vilões estaria completa sem a presença de Baby Jane, vivida pela extraordinária Bette Davis neste clássico de 1962. Louca de pedra e ainda alimentando sonhos do passado no qual brilhou como estrela infantil, ela desperta a um só tempo pena, riso e repulsa. E nem pensem que por ser velhinha(ops...nem tanto...) ela não tenha fibra suficiente para mandar qualquer pobre coitado para a terra dos pés juntos: ela empunha um martelo como ninguém...

Bom, é isso. Lista feita de adoráveis convidados para um animado happy hour. De preferência com petiscos à moda de Baby Jane: ratazanas fritas ou cozidas. Os interessados em fazer a sua própria lista de vilões, fiquem à vontade!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Réquiem para Um Sonho





Ellen Burstyn é uma das minhas atrizes favoritas. Dona de uma carreira respeitável no cinema e no teatro, com seis indicações ao Oscar e vencedora do prêmio de melhor atriz por sua atuação em Alice Não Mora Mais Aqui (1974), a veterana estrela de O Exorcista (1973) andava meio fora de foco, trabalhando em filmes de pouca expressão, mas voltou a chamar a atenção em 2000, graças a um jovem diretor que também daria o que falar: Darren Aronofsky, que proporcionou a Ellen o papel feminino mais ousado e corajoso do ano em questão, no impressionante drama Réquiem para Um Sonho. Um retorno triunfal de uma grande intérprete, diga- se de passagem.



Em Réquiem para Um Sonho Ellen Burstyn nos oferece uma interpretação absurdamente estupenda no papel de Sara Goldfarb, uma solitária viúva que é fascinada por um daqueles típicos programas de de auditório televisivos. Até que um dia ela é convidada para participar do programa. Almejando apresentar-se usando um vestido vermelho que usou na formatura de seu filho Harry (Jared Leto) e que tanto agradava o seu falecido marido, Sara percebe que não cabe mais na roupa. Enquanto isso, seu filho Harry encontra-se perdidamente apaixonado por Marion (Jennifer Connelly),uma moça rica que sonha em lançar a sua própria grife de roupas. Completando o quadro de protagonistas, temos Tyrone (Marlon Wayans), o melhor amigo de Harry. O que estes quatro personagens têm em comum: todos eles terão os seus sonhos destruídos ao se tornarem viciados em drogas.
Um amigo comentou comigo o que experimentou após assistir a este filme:"Senti como se um caminhão tivesse passado por cima de mim." A definição não tem nada de exagerada. Réquiem para Um Sonho é uma jornada tão sufocante e tão dolorosa que, no papel de meros espectadores, acompanhamos e sofremos com os seus personagens, testemunhamos a degradação física e moral dos quatro protagonistas de forma tão intensa e visceral que, ao término do filme a sensação de pesar e angústia parece nos acompanhar por horas e horas. Ou por dias, como foi o meu caso.


Aronofsky usa e abusa e cortes rápidos - o filme tem mais de duas mil tomadas, quando o normal em uma película de duas horas está na faixa de 600 a 700 cortes - repete insistentemente imagens de pílulas sendo ingeridas, seringas injetadas em braços, pupilas dilatadas e drogas corroendo organismos traduzindo de maneira tão incômoda as sensações dos personagens que, embora à primeira vista possam parecer meras imagens gratuitas, logo se revelam fundamentais e perfeitamente integradas ao verdadeiro propósito da narrativa: deixar a platéia tão perplexa e desorientada quanto Marion, Harry, Tyrone e Sara.


E o melhor de tudo é que com todo esse exercício de estilo, Aronofsky jamais abandona o seus personagens, defendidos por um elenco fabuloso, que aqui agarra com unhas e dentes a oportunidade de dar vida a seres tão brutalizados pelo vício: é admirável a coragem com que Leto, Connelly (sempre linda e aqui mais fragilizada do que nunca) e um surpreendente Wayans tiveram ao representar três jovens desesperados e desencontrados em seus sonhos.
Mas nada é mais aterrador que a trajetória de Sara Goldfarb. Viciando-se em inibidores de apetite para caber no vestido vermelho e assim participar do programa de TV, válvula de escape para a sua existência marcada pelo abandono, o retrato do seu vício e consequente destruição torna-se ainda mais cruel e pungente por sabermos que a idosa sequer tem consciência de que está se tornando uma viciada e que, ao contrário de Harry, Marion e Tyrone, jamais pediu para estar nesta posição. É um retrato impiedoso da solidão e do abandono ao qual os idosos na maioria das vezes são relegados, aos seus sonhos destruídos por uma sociedade que os ignora e os trata como lixo. A cena em que Sara vai se consultar com um médico é particularmente notável nesta crítica ao descaso com a terceira idade.

Em tempos em que qualquer filme apelativo e mediano é logo rotulado de "ousado",Réquiem para Um Sonho reafirma o seu status de cult, sendo uma das obras mais impactantes do cinema ao mergulhar de forma tão incisiva em um tema tão contundente, sem apelar para soluções fáceis ou lições de moral edificantes. Aliás, aqui não parece haver solução alguma. Apenas um pesadelo em estado bruto.

-Requiem for A Dream,EUA,2000

-Direção: Darren Aronofsky

-Roteiro: Darren Aronofsky e Hubert Selby,baseado em seu romance

-Com: Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans, Marcia Jean Kurtz, Louise Lasser, Sean Gullette e Christopher McDonald.







segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A Última Sessão de Cinema


Nos anos 70 o diretor Peter Bogdanovich era tido como um dos cineastas mais competentes e elogiados da época,tendo conseguido a proeza de emplacar três estouros sucessivos com A Última Sessão de Cinema (1971),Essa Pequena É Uma Parada (1972) e Lua de Papel (1973). Infelizmente dias ruins marcaram a carreira do diretor,que a partir do fracasso de Muito Riso e Muita Alegria (1981) não conseguiu mais se destacar no primeiro time de Hollywood, tendo hoje se limitado a dirigir filmes para TV e com apenas um projeto cinematográfico previsto para ser lançado em 2009. O que vem a ser uma pena,uma vez que neste fim de semana pude conferir uma pérola dirigida por ele e talvez o seu filme mais conhecido:A Última Sessão de Cinema, um retrato da desilusão juvenil passado em uma minúscula cidade americana entre os períodos da Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coréia.
Trata-se do chamado filme-coral, onde vários arcos dramáticos vão se desenvolvendo e revelando uma conexão no seu todo. No entanto, apesar de contar os dramas e conflitos dos habitantes da pequena Anarene, interior do Texas, a narrativa dedica atenção especial aos jovens dessa cidade.


Sonny (o talentoso Timothy Bottoms) e Duane (Jeff Bridges,indicado ao Oscar de ator coadjuvante) são amigos inseparáveis. Presos ao cotidiano modorrento do local,ambos têm como única diversão o bar e o cinema locais, administrado por Sam, "O Leão"(papel de Ben Johnson, premiado com o Oscar de ator coadjuvante). O cinema serve muito mais para troca de amassos entre os casaizinhos locais do que propriamente para se apreciar um filme. Duane namora Jacy Farrow( Cybill Shepherd,estreando no cinema, revelando uma incrível sensualidade), e pretende se casar com ela, ainda que o namoro não seja bem visto pelos pais de Jacy, que são ricos e desprezam o rapaz pobretão. Sonny inicia um caso com a esposa do treinador de basquete,vivida por Cloris Leachman(também premiada com o Oscar de atriz coadjuvante).


Com uma premissa aparentemente tão banal, é de se imaginar que se trata de um drama fraco e piegas sobre a descoberta do amor juvenil, recheado de clichês novelescos, mas o foco do filme não está em apresentar rapazes envolvidos em situações amorosas carregadas de melodrama. Sonny e Duane não são personagens burocráticos e sem vida: são jovens presos a um cotidiano miserável, sem perspectivas. Eles buscam o seu lugar no mundo, desejam firmar-se como pessoas bem-sucedidas, mas esbarram na imaturidade causada pela ignorância e pela inconsequência tão típicas dessa fase da vida. Seus anseios são palpáveis e reais, e não dramas inconsistentes e esquemáticos. São personagens facilmente identificáveis e pelos quais passamos a torcer pelos seus destinos, já que o que está em discussão aqui é o futuro: sim, como imaginar um futuro vivendo numa cidade que está fadada ao fracasso e a uma morte silenciosa?


Os adultos também são bem representados: da frustrada esposa do treinador,passando pelo velho Sam até a mãe de Jacy,vivida por Ellen Burstyn, também encontramos seres desencantados, sofridos com casamentos de fachada, sufocados por convenções sociais e fadados a morrerem abandonados e entregues à solidão. O filme ainda insinua de forma sutilmente cruel que Sonny, Duane, Jacy e tantos outros jovens caminham para substituírem os adultos amargurados da pequena Anarene, num triste ciclo de uma localidade que parece emitir os últimos suspiros de uma existência envolta em sombras e decrepitude.


Fotografado em um preto-e-branco adequadamente fúnebre, o que só aumenta a sensação de desconforto e melancolia, A Última Sessão de Cinema é um dos mais tocantes filmes sobre as desilusões de uma geração, resultando em um trabalho primoroso de um diretor que pode até estar meio esquecido atualmente, mas que deixou sua marca no cinema americano, criando aqui um filme memoravelmente poético na sua bem dosada mistura de dramas juvenis e adultos, que por mais diferentes que possam ser, ainda guardam incríveis semelhanças quanto aos seus anseios.


-The Last Picture Show, EUA, 1971

-Direção: Peter Bogdanovich

-Roteiro: Peter Bogdanovich e Larry McMurtry, baseado em seu romance

-Com: Timothy Bottoms, Jeff Bridges, Cybill Shepherd, Cloris Leachman, Ben Johnson, Sam Bottoms, Eileen Brennan, Clu Gulager e Ellen Burstyn.


sábado, 11 de outubro de 2008

Crepúsculo dos Deuses



O primeiro texto do blog é justamente o filme que em seu título original batiza este espaço de postagens. Um dos meus filmes favoritos e figura fácil em qualquer lista dos melhores filmes de todos os tempos, Crepúsculo dos Deuses é uma obra transcendente, daquele tipo de realização que é estudada, amada e reverenciada e que só ganha em força e relevância quanto mais o tempo passa. Um clássico absoluto.

Uma obra-prima desse porte tem um "pai": o grande Billy Wilder(1906-2002). Assinando também o roteiro em parceria com Charles Brackett e D.M. Marshman Jr., Wilder mergulha o espectador nos bastidores do cinema, um mundo onde glória e decadência parecem coexistir como elementos intercambiáveis.
Joe Gillis(William Holden) é um roteirista fracassado e atolado em dívidas.Fugindo de seus credores,ele irá se esconder numa mansão aparentemente abandonada. No entanto,a residência tem uma proprietária:Norma Desmond(Gloria Swanson,numa interpretação inesquecível), uma antiga estrela do cinema mudo,hoje reclusa e esquecida do grande público.Tendo por companhia somente o estranho mordomo Max von Mayerling(vivido por Erich von Stroheim),ele próprio um prodígio da era muda do cinema e ex-marido da diva Norma, agora relegado à condição de criado dela.

Norma vive na sua solitária mansão alimentando a idéia de um retorno triunfal às telas, idéia esta que ganhará forma ao conhecer Gillis e descobrir que este é um roteirista, contratando-o para reformular o script da obra que marcará a sua volta gloriosa ao cinema,no papel da famosa personagem bíblica Salomé, o que não deixa de ser mais uma bizarrice, uma vez que a Salomé da Bíblia é uma adolescente e Norma já passa dos cinquenta anos.Mas mediante mimos e mais mimos, Gillis acaba por se deixar enredar pela excêntrica atriz.

Com a ironia cortante que se tornou uma verdadeira marca da sua vasta e prolífica carreira,Wilder pinta aqui o mais impiedoso retrato da indústria do cinema: usou nomes de pessoas e situações ligadas a Hollywood que existiram de verdade, trouxe para o elenco personalidades como o lendário diretor Cecil B.De Mille (que na vida real trabalhou com a própria Gloria Swanson) e a colunista de fofocas Hedda Hopper, apresentando um quadro tão cruelmente sincero da indústria do cinema em seu filme que à época de sua estréia Crepúsculo dos Deuses dividiu opiniões inflamadas - uns o saudaram como uma obra-prima que demolia e homenageava o cinema a um só tempo; outros o demonizaram sob a acusação de que a obra em si era um ataque de puro mau gosto ao intocável e glamouroso mundo do cinema.


O trio central de intérpretes ilustra bem o caráter cínico do filme: William Holden vinha de vários papéis estereotipados de galã e há muito seus trabalhos não despertavam interesse; Erich von Stroheim teve sua carreira arruinada com o advento dos filmes falados e estava relegado a trabalhar como ator em papéis de rígidos militares e Gloria Swanson, a exemplo de sua personagem, estava completamente esquecida do público e dos estúdios que sempre a haviam paparicado. Não é exagero dizer que os três interpretaram paródias de si mesmos no filme.

A Norma Desmond de Crepúsculo...é um desses ícones eternos do cinema. Completamente insana nos seus desejos de retornar a trabalhar como atriz para uma indústria que a canibalizara - muito embora a própria jamais admitisse isso - ela personifica toda a atmosfera de sonhos e ilusões que dão ao cinema o seu caráter mágico e encantador, numa estranha combinação de fascínio e tragédia, captadas de forma soberba pela direção de Wilder.



"Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos", afirma Norma na mais emblemática fala do filme. Assistindo a este clássico imortal fica realmente impossível discordar de tal afirmação. Grande Norma. Grande Wilder.

Sunset Blvd. EUA, 1950
Direção: Billy Wilder

Roteiro: Billy Wilder,Charles Brackett,D.M. Marshman Jr.

Com:William Holden, Gloria Swanson, Erich von Stroheim, Nancy Olson, Jack Webb e Cecil B. De Mille.